Educação

Por que os pais podem e devem ensinar em casa

Muitos se sentem inadequados para praticar o ensino domiciliar porque comparam o tempo de preparação que professores certificados possuem em relação à própria formação – que por vez é bem modesta – afinal, em uma média hipotética, são 32 anos de academia em sala de aula – considerando 4 anos de graduação nas 8 disciplinas mais comuns: português, matemática, biologia, química, física, história, geografia e inglês. O contraste é grande mesmo quando não consideramos outras disciplinas ou os anos de experiência de cada docente. Olhando dessa forma, qualquer um ficaria inibido de instruir, mas essa presunção está equivocada. Não se trata de medir a capacidade quantitativa de quem ensina, mas da qualitativa de quem aprende. É menos o volume de alimento e mais sobre a dose certa de nutrição.

Quando a criança nasce, a alimentação é progressiva: primeiro vem os líquidos (leite materno) depois os semissólidos (papinhas) e por fim os sólidos (grãos, carnes, etc). O deslocamento segue o mesmo princípio: rastejam, engatinham, andam e depois correm. Você cumpre sua missão nestas duas esferas sem ter o gabarito de um Alex Atala ou de um Usain Bolt. Você oferece o essencial, a ponte para que migrem de um grau menor de maturidade para um maior – de dependentes para independentes. Sereis modestos no ensino, mas ambiciosos no aprendizado. É desta forma que se cria autodidatas, que num estalar de dedos, não precisarão recorrer a você, seja para comer, correr ou aprender.

Aprender é descobrir. Ocorre de duas formas: COM ou SEM ajuda. A primeira se dá com o professor e a outra por si só. Entenda que nenhum mestre consegue produzir o conhecimento na mente de seu pupilo, mas ajuda-a a descobrir por si mesma – como o fazendeiro que não produz grãos, mas ajuda a cultivá-los ou o médico que não produz saúde, mas auxilia o corpo a recuperá-la. Isso mesmo, o aprendizado é uma tarefa ativa e individual, por isso não é possível dizer “eu aprendo você”, mas “eu ensino você”. Sócrates disse:

tudo que faço é auxiliar no nascimento do conhecimento, o nascimento da compreensão das ideias na mente de alguém. E ao ajudá-lo no trabalho da descoberta, eu torno o processo da descoberta mais fácil e menos doloroso para ele”.

Trata-se de migrar a mente do aprendiz da incompetência consciente para a competência inconsciente. Você deve ser ponte, não fonte.

O verdadeiro mestre não é mina de informações, mas um facilitador com perguntas. Não se posiciona como oráculo, mas como um guia na jornada exploratória. É a diferença entre informar e formar. Em vez de perguntar-se “tenho todo o conhecimento necessário para ensinar meu filho?” – eu não conheço ninguém que tenha – pergunte-se: “Sou capaz de buscar o que meu filho precisa?”. Percebe como a pergunta certa muda a perspectiva? É exatamente esse exercício que fará com seu filho.

O professor na escola tem vantagem quantitativa no que tange a formação, mas desvantagem qualitativa pelo modelo coletivo de ensino. Quando leciona, faz de uma forma generalizada, para atingir a média de alunos e isso traz – geralmente – as seguintes consequências: um terço da sala, na melhor das hipóteses, entende imediatamente o que está sendo dito, outro terço precisa de um repeteco, e o último terço não entendeu nada ou nem prestou atenção. Quando era um aluno em sua escola, quantas vezes você quis fazer uma pergunta, mas ficou constrangido de levantar a mão devido a pressão social?

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