Liderança

Como Transformar Sua Cultura Organizacional

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Cultura é o que fica depois de se esquecer tudo o que foi aprendido. Ela é soberana, come a estratégia no café da manhã, devora novos procedimentos operacionais no almoço e janta líderes despreparados. É o jeitão de fazer as coisas. Se ajudar uma única pessoa a mudar é difícil, imagina impactar toda uma organização? Será possível? Se sim, como?

Culturae, do latim, significa cultivar. Se um fazendeiro nada fizer em suas terras, a entropia entra em ação, o caos é implementado, ervas daninhas se multiplicam e perde-se o controle e produtividade na fazenda. O líder é o fazendeiro responsável por cultivar pessoas na empresa e para tal precisa arar a linguagem, plantar tradições e regar valores.

O terreno da linguagem no Brasil é árido e infértil. Quando analisamos a maioria das causas raízes de um problema nos deparamos com a comunicação: a causa raiz das causas raízes. Um problema de estirpe só pode ser explicado pelo descuido com o terreno. Gramática nos e-mails, retórica nas apresentações e lógica nos argumentos são exemplos de nutrientes faltantes no terreno da linguagem empresarial. O que é dito ou escrito geralmente não é o que o outro entende. O que o líder deve fazer? Arar e adubar significa treinar. Eis algumas sugestões:

  1. Crie um grupo de leitura;
  2. Tenha uma biblioteca na empresa;
  3. Ofereça workshops de comunicação;
  4. Treine a equipe através de feedbacks;
  5. Desenvolva jargões próprios;
  6. Reconheça publicamente a boa comunicação;
  7. Crie um jornal da empresa.

A linguagem é a primeira e mais significativa ação para produzir bons frutos. Arar é redimir a formação estéril em um país que ainda galga a lanterna em educação.

As tradições são hábitos que se perpetuam geração após geração. São sementes de um mesmo lote cuja produtividade é previsível. Uma tradição que demorei para implementar foi a celebração. Não fui criado nessa cultura, e tendemos a repetir nossas tradições, para o bem ou mal. Se eu tirasse 10 na prova, não fazia mais que a obrigação.

Muitas empresas tocam um sino para comemorar a conquista de um novo cliente enquanto possuem uma taxa de retenção baixa. Isso não é crescimento, nem avanço, mas turnover, substituição apenas, e a equipe percebe isso. A tradição da celebração não é sobre as conquistas da empresa, mas sobre as conquistas das pessoas. Celebre as “quick wins” – vitórias rápidas – por menores que sejam, afinal, ninguém quer esperar 365 dias para saber se venceu. Eis alguns exemplos de tradições:

  1. Criar um ritual divertido em uma reunião;
  2. Fazer reuniões em pé para durar menos tempo;
  3. Café com os líderes de 15 em 15 dias;
  4. Trabalhar – pelo menos uma vez ao mês – diretamente na linha de frente;
  5. Presentear colaboradores pelo tempo de casa;
  6. Colaboradores participam dos processos de seleção de novos candidatos;
  7. Premiação para os colaboradores mais destacados na vivência de um determinado valor;
  8. Anunciar publicamente uma promoção.

Essas são tradições de tarefas, mas existem aquelas cuja matéria-prima está na crença que leva as pessoas a agirem: seus valores.

Os valores são crenças em ação, um padrão de conduta que tende a não mudar. Se você possui uma grande meta, como por exemplo chegar ao topo do Everest em dois anos, quais são os principais comportamentos, valores ou virtudes que uma pessoa com esse objetivo precisa ter? Disciplina? Planejamento? Determinação? O líder precisa ter em mente que erros são aceitos, mas a disposição errada é intolerável. O fazendeiro perdoa um erro aqui e ali, mas dificilmente é complacente com a preguiça, desorganização ou covardia.

A Nucor, empresa americana de aço, enfrentava dificuldades com o comportamento de jovens técnicos. Eles eram bem formados, mas não muito produtivos. A empresa passou por um choque de performance e cultura ao redefinir sua estratégia para pequenas plantas em cidades interioranas onde contratava garotos da zona rural e os formava dentro da empresa. Os garotos já estavam acostumados com a disciplina que a mãe natureza impõe na fazenda, só precisavam de conhecimento técnico. Contrataram valores, treinaram competências. O fazendeiro rega valores já existentes, não tenta criar novos.

Uma sugestão neste fim de ano: crie (ou associe) o evento Oscar dos Valores. Faça uma votação na sua empresa, organização ou departamento onde você elenca as pessoas destacadas num determinado valor. Exemplos de valores: Coragem, Respeito, Disciplina, Colaboração e Proatividade. Os colaboradores mais votados em cada valor recebem o reconhecimento que pode ser um troféu, presente ou cartão/certificado.

Cultivar é promover o crescimento com excelência. É reeducar as pessoas. É ser o professor de um novo idioma corporativo, o atalaia das tradições organizacionais e o jardineiro dos valores culturais. Precisamos ser mais lembrados do que ensinados. A repetição é uma lei bem-vinda. A cultura organizacional somente será transformada se o líder tiver a mesma fibra do fazendeiro. Do que o leitor se lembrará depois que esquecer o texto lido? Ficou alguma coisa? Lembre-se: a cultura é o que permanece, é soberana, trate-a bem, do contrário, poderá ser devorado por ela.

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